quarta-feira, 21 de maio de 2014

da parede

Não me interessa o que dizem os dissidentes da ditadura.
Mas confesso que gostava de chocolates Toblerone
que a minha tia me trazia no Natal.

Não acredito nos detidos políticos,
nem me impressionam os miúdos descalços
que mostram os dentes para as máquinas Minolta
dos turistas italianos.

Não vou pedir asilo.
Desconheço os avanços ou retrocessos económicos do meu país.
Já falei de Drácula que chegue.
Já apanhei morangos na Andaluzia.
Já fui cigana, já fui puta. Escusam de mo perguntar outra vez.

O que me preocupa — e isso, sim, pode ser relevante
para o fim da história — é saber quando é que me transformei,
eu que era uma loba solitária,
neste caniche de apartamento que vos fala agora?

Golgona Anghel