sábado, 29 de agosto de 2015

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

sábado, 22 de agosto de 2015

give me a sign

Em Bruxelas? mas o que vou fazer a bruxelas? comer chocolates e mijar nas fontes? Não me parece. é preciso que vás lá, já te reservei hotel. fazer o quê? há coisas que não se dizem por telefone. temos que arranjar um novo meio de comunicação. regressar aos antigos? talvez, mas este parece-me desadequado. Desadequado porquê? é curto. curto? tu é que és curto. pois isso já sabemos, mas mesmo assim parece-me melhor mudar. seja, como quiseres, mas vais ter que ir lá.

Dois dias depois encontramos-nos no escritório do rio. Simpático, com uma nesga de rio pela janela, de viés claro, de frente era uma praça com um artefacto com um significado qualquer que nunca cheguei a saber qual era - demasiados carros estacionados para que eu me desse ao trabalho de deambular por lá ao telefone. Chegou atrasado como era hábito o que me deu tempo para ficar a ver a vizinhança. Já não ia lá há algum tempo e o bairro, embora não muito agradável para a classe média, era consideravelmente aprazível. Na verdade, não demorará muito a que nenhum dos actuais habitantes consiga lá viver. A maior parte morrerá, estão a caminhar para lá de forma bastante sustentada do alto dos seus setenta anos, e os restantes, a maior parte filhos e netos ficará sem conseguir suportar o elevar das rendas ou resistir ao poder de mais umas quantas massas no bolso em troco de irem viver para outro lado, um bocadinho mais afastado do rio ou na mais completa periferia talvez seja mais realista. Os que resistirem serão alvo de uma tramóia qualquer com a câmara municipal que conseguirá levantar problemas suficientes para que o preço, bastante abaixo dos futuros proveitos que os agentes imobiliários tirarão quando pintarem e escavacarem as casas para fazer delas espaços de áreas aprazíveis à nova classe que se esquecerá rapidamente que nem sempre ali viveu, que lhes ofereceram seja muito razoável. Em todo o caso o Bigs, café bar, já parece ser um sinal estranho, ainda tem muita gente amiga dos netos do bairro, deste fenómeno. Gajo porreiro o dono, conseguimos depois umas quantas idas lá, e umas quantas garrafas de espumante abertas, que ele nos desse a atenção necessária para perceber que tinha que isolar aquilo de forma decente, gastava muito em electricidade para aquecer ou arrefecer aquilo, ou pelo menos foi o que o convenceu, e que nós, por mero acaso, sabíamos exactamente quem deveria fazer o trabalho por um valor muito razoável, e respectivos 30% de agenciamento. Quando chegou, já eu estava no terceiro cigarro e a pensar porque é que aquele escritório era ainda mais despido que os outros, três mesas, quatro cadeiras, duas prateleiras vazias, um armário de metal sem portas e um teclado e um monitor, nada de computador propriamente dito, esbaforido e com o telefone colado ao ouvido fez uns sinais de que era só mais um segundo e pegou na chave da casa de banho e desapareceu por mais vinte minutos. Embora não fosse assim tão normal como isso o melhor é nunca perguntar a um tipo porque é que ele demora vinte minutos na casa de banho, em especial se chega a falar como se se tivesse ausentado apenas um minuto. Em frente ao escritório, que ficava num segundo piso do que poderia ter sido em tempos um armazém do início do século XX, ficava um edifício, mais ao menos, gémeo que albergava uma embaixada de uma país de leste qualquer. Já lá tinha ido vezes suficientes para perceber que o gordo que chegava num fiat 500, dos novos, branco, com um excesso de velocidade de pelo menos o dobro do permitido na zona, era o embaixador; entrava directamente para a garagem e já só se o via a percorrer o corredor enquanto as pessoas o cumprimentavam com muitos salamaleques, ou pelo menos assim o parecia, estilo filme mudo, do outro lado da rua.
onde estacionaste? na rua que desce para o tanque. qual tanque? duas ruas atrás. Ah, aquilo é um tanque? é, nunca viste as mulheres a lavar lá roupa? bem, vamos ao que interessa. Amanhã tens que ir a Bruxelas ter com o Albert. Quem? Aquele com quem estiveste em Bucareste, o da farda de general. General? Não interessa, de militar. Sei. Tens que ir lá ter com ele e um sócio e ver como é que se envia um contentor da Serra Leoa para cá e depois para Itália. ok, está acertado com ele o preço? está, o Piçarra tratou disso. Só tens que ver como é que são as garantias necessárias. bancárias? sim, e quanto é que ele paga pelo serviço. Que é que vem no contentor? - algo que ficava sempre na dúvida de querer saber. Níquel. porque é que tem que passar cá? faz-se dinheiro com aquilo. Quem é o proprietário do contentor? Uma das empresas do general. é só para fazer o transporte? só. ok, mas digo-te já que acho uma ideia de merda fazer isto em Bruxelas, de merda mesmo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

rabbit hole



Coura 21

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Upon your shore

Querer tinha pouco a haver com a situação, talvez por isso se tivesse afastado do dia-a-dia, era algo que lhe corria nas veias e lhe inundava a mente em todas as situações. Tinha tentado os tratamentos do costume, mais ou menos assistidos, sem grande sucesso. A espaços conseguia uns dias sem que o corpo se contorcesse, olhava para baixo e pensava que já tinha recuperado o seu estado prévio e era aí que percebia que nada tinha passado e tudo voltava. À mesa de refeições ficava de repente sem apetite, que já não era muito, pelo que estava a ser servido, quando se ia deitar enfrentava a insónia e acordava nessa insónia de manhã, demasiado cedo sem a noção de onde acordava, mas onde o caso era mais grave era nas longas horas do dia. De noite, sempre conseguia desaparecer por umas horas e mais das vezes não se lembrava do que sonhava, agora de dia não havia fuga possível. Nas lentas horas das tardes era uma realidade que queimava a pele, que se consumia em cigarros e água na tentativa de limpar o organismo. Olhava e procurava, refazia mentalmente o processo vezes sem contas, eram golas vermelhas e alças pretas, quadros que faziam lembrar pollock, tudo coberto com cortinas de fumo. Levantava-se e sentava-se constantemente, pequenos passos para a frente e para trás, os olhos perdidos noutros mundos, noutras geografias, as imagens a cruzar-lhe a mente sem sentido, desde toxinas de cobras para curar estrabismo a sapatos com flores no calcanhar, métodos de monte carlo e rendas. Procurava distrair-se com actividades manuais, acalmar, procurar no craftster algo onde se fixar, um paliativo de pouco impacto. Não, não tinha nada a haver com querer, era uma impressão de pele.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Cat people

Avistei o Baltazar a passar ao longe, naquela linha da costas vêm-se vultos que mais parecem gatos negros e o Arquimedes dentro de água gritaria tão alto que se ouviria em Paris. O sol encontra-se de frente e a imagem que tens é a que guardas na retina dos olhos de anos volvidos, franzes a testa e é um decalque do que guardas que vai passando. Ainda o tentei alcançar mas ele já se tinha esfumado, talvez o consiga ver, mais tarde, no canto do costume.