um homem é o somatório do seu ser com o seu passado e os sonhos do seu futuro. Retirar ao homem o seu desejo futuro origina um animal amorfo, tirar-lhe o seu passado transfigura-o numa besta sem escrúpulos. O momento presente é, por definição, uma ausência de tempo ou de espaço, tudo é passado ou futuro, o agora é uma impossibilidade gelada, tudo já aconteceu ou vai acontecer. é o conjunto de argumentos passados que permite a corrida para o futuro e é o excesso de passado que hipoteca o futuro. "to have me in the future you have to forgive my past". por seu lado, o excesso de futuro não permite que o passado se acumule de modo a robustecer o acontecer de futuro, um oroboro terrivelmente pernicioso, cheio de dúvidas e ânsias que nunca se concretizam. Existem sombras mais escuras que a noite "como esta casa deve ser triste às três horas da tarde" "na noite mais escura da alma são sempre três da madrugada" e é uma combinação de objectivos futuros que permitem dar sentido ao passado que se constrói como realizador de um filme muito próprio, onde a trivialidade da realidade é relegada para um discursos auto existencialista. Têmis e Nêmesis de uma noite demasiado longa, de um dia demasiado perpétuo, jogo de dados com um fim estabelecido. é uma sedução da vida à morte, uma sedução, que como todas as mulheres, espera ganhar sabendo que não existem realmente vencedores, é um desequilíbrio entre dar e perder, uma vingança e necessidade de retribuição e uma temperança que se propaga para aplacar o futuro, para o conquistar, para sobreviver ao passado. um jogo entre atrair e vingar. vingar o quê? as pequenas loucuras ou as pequenas perdas? atrair o quê? pequenas vitórias ou novas cartas para um jogo que já se perdeu? aqui surge o ser, moldado, esculpido, cinzelado, estropiado, magoado pelo seu contexto. não o incorpora, a sede de sangue será sempre sede de sangue mesmo num campo de magnólias, e portanto o contexto embora perpétuo é um jogo de livre arbítrio, mesmo que a única escolha seja antecipar o olvido e recolher-se nos seus braços frios. contudo, o seu contexto, iminentemente interno como na caverna mais do que o externo da propaganda é ao mesmo tempo recurso e produto do eu, permitindo, ao mesmo tempo que inviabiliza, as escolhas livres de o serem, afigurando-se, assim, como as escolhas de um animal enjaulado sem saber que engoliu a chave do seu cárcere. a própria consciência desse gole prisioneiro constitui um recurso pouco plausível para alguém que ainda espera o futuro e impossível para quem esqueceu o passado. não passando, isto tudo, de um diálogo com o absurdo onde Nix colocará um afago final, de, onde brotarão deuses.
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