Não me interessa o que dizem os
dissidentes da ditadura.
Mas confesso que gostava de
chocolates Toblerone
que a minha tia me trazia no
Natal.
Não acredito nos detidos
políticos,
nem me impressionam os miúdos
descalços
que mostram os dentes para as
máquinas Minolta
dos turistas italianos.
Não vou pedir asilo.
Desconheço os avanços ou
retrocessos económicos do meu país.
Já falei de Drácula que chegue.
Já apanhei morangos na
Andaluzia.
Já fui cigana, já fui puta.
Escusam de mo perguntar outra vez.
O que me preocupa — e isso,
sim, pode ser relevante
para o fim da história — é
saber quando é que me transformei,
eu que era uma loba solitária,
neste caniche de apartamento
que vos fala agora?
Golgona Anghel
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