quinta-feira, 18 de julho de 2013

down to your...


a morte esconde-se no calor, no colarinho molhado, no cheiro acre. O silêncio encontra-se no peito negro de abismos, mudo, onde a profundidade do eco não tem retorno. A vida passa em segundos lentos de nadas colados uns aos outros como forma de dar o desenho de um adn dos dias. A respiração toma o balanço do corpo e pressente-se no momento em que se afunda. As dores acontecem em morrinha de sussurro, presentes, com alterações de intensidade, mas presentes, presentes sempre. Escorrem ideias, calmamente a caírem no fundo do mar, aspirações e desastres, todas a caírem até não mais submergirem. A capsula da atmosfera fecha-se, contorna e aperta. Carrega o ar de estática, de plástico. Os ossos descarnam lentamente, sem dor, como pedaços secos, e apenas a sua visão causa tristeza. Os meninos fecham os olhos nas esquinas das sombras, adormecem profundamente sem que lhes tenha sido dado as boas noites e as estrelas já não os olham. O barulho desaparece de dia, a cidade esconde-se nas ondas do horizonte como colunas enroladas em si mesmas e à noite os programas de televisão têm horários marcados para falarem entre si pelas varandas abertas enquanto os seus ocupantes se esquecem dessa capacidade. Os carros param destroçados pela corrosão nas portas de janelas meias subidas a colher a poeira. Os cães deitam-se e as pessoas passam a olhar para o chão entre as garrafas de plástico. Uma sapatilha branca, de uma marca conhecida, descreve rastos no passeio, espelha o sol e desaparece num café, outro cigarro destroça-se ao cair na sarjeta. Uma garrafa de cerveja meia cheia aparece abandonada numa mesa solitária de uma esplanada vermelho debotado, o seu bebedor desapareceu, lembrou-se que tinha que fazer outra coisa que não esconder as cadeiras do sol e foi-se embora deixando os despojos. Engole-se para dentro, esconde-se, esquece-se, a fala; o que se pensa; o que se sente; traga-se a vida em escolhas com os ossos gelados e as faces rubras. Escorrem as angustias com que cobrimos a pele, escondem-se os ossos à vista com trapos rasgados de vestidos azul glaciar, tapam-se os olhos com as pedras da calçada de modo a que só se veja o sangue que deles escorre e tapa-los já não faça sentido e as mãos caídas, dos braços caídos, perdem as sombras do futuro entre os dedos, caídos.