terça-feira, 30 de dezembro de 2014

As he bummed his cigarette



ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher 
alimento suficiente para a tua morte
vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer – vai por esse campo 
de crateras extintas – vai por essa porta 
de água tão vasta quanto a noite
deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo – deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração – ouve-me
que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna – o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite
não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira – não esqueças o ouro
o marfim – os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço
in Horto de incêndio, Lisboa: Assírio & Alvim, 1997

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Begin, murderer. Pox, leave thy damnable faces, and begin! Come, the croaking raven doth bellow for revenge.

No dia 17 de Novembro senti sangue na garganta. Há quatro anos Novembro foi, particularmente, frio, talvez por isso o sangue, e eu estava no inicio deste caminho que acabei por seguir, sem saber. Saía cada vez menos, comprar cigarros, tomar café, ler o jornal, ir às compras, mais ao menos por ordem de frequência, sendo que cigarros e café eram muitas vezes frequências acumuladas, assim como com o jornal, sendo que com as compras a maior correlação eram os cigarros, embora não raras vezes também tomasse café. Desse tempo recordo que ainda resolvi uns problemas em balcões de lojas e dos correios, na sua maioria problemas com contas ou artigos defeituosos, uma torradeira que começou a deitar fumo passado duas semanas, e às terceiras torradas que lhe punha, de a ter comprado ou uns problemas com o débito automática no banco das contas do telefone e luz. Por essa altura, comecei a comprar de forma mais organizada, talvez mais automática seja melhor definição, pois de organizado nunca tive nada, sem fugir muito do cabaz de semana para semana. Em retrospectiva diria que estava a afinar uma receita de sobrevivência, com cálculos elaborados, embora inconscientes, de duração dos produtos e combinações dois a dois e três a três, que foi ao que acabei por reduzir a minha perícia na cozinha. No inverso dessa disciplina estavam as compras de vinho, gin e whisky, aí foi o consumo que teve que começar a ser mais disciplinado, mas isso já numa fase posterior e com pouco de inconsciente, fruto de restrições exógenas. A verdade é que me assustei com o sabor a ferro na boca, ainda pensei que seria um dente mas depois de passar a língua pela fileira dos ditos não consegui localizar a fonte o que me levou, com a prática de catarro de fumador, a fazer uma convulsão, para que os fluídos na garganta regressassem à boca, com o ferro a inundar a boca como se tivesse acabado de levar um murro nos dentes. Cuspi para o lavatório e a minha saliva apresentava-se de um escuro sanguinolento. Passei a boca por água, voltei a cuspir e o lavatório devolvia-me um lago rosa com fios mais escuros. Olhei-me ao espelho e voltei a repetir o processo, o sabor a ferro, quase terroso, era já menos intenso; cuspi e nada do que se tinha passado se voltava a repetir, apenas uns farrapos escarlates que nem tingiam a água, de forma considerável, passei a boca por água, bocejei, deixei sair o líquido
- isso ainda te mata
e dei o processo por satisfeito, olhando o espelho a esperar que me respondesse se me deveria preocupar e ir ao médico ou se era apenas mais um sinal de uma máquina demasiado complicada para eu a compreender. Não me doía a garganta, ou pelo menos não mais do que o normal, o sangue tinha passado sem eu conseguir realmente identificar de onde é que ele vinha, assim como assim poderia ter sido de alguma coisa que eu tinha comido, ou uma veiazita que não tivesse gostado dos copos da noite anterior e tivesse resolvido alertar-me para o facto. Lavei os dentes, num reflexo de que a higiene oral faz parte de não termos razões para ir ao médico, olhei o espelho, ele continuou mudo, pensei que estas coisas aconteciam e que se voltasse a repetir talvez devesse procurar ajuda e fui para a cozinha fazer um café e acender um cigarro. Se fosse algo de grave, de certeza que, daria sinal com as agressões matutinas, não deu e portanto não voltei a pensar nisso até agora.
- essa merda vai acabar por te matar
Nesse dia, lembro-me, talvez pelo sangue, que percebi pela primeira vez que as compras que fazia davam-me precisamente para uma semana, sem ter que me maçar de novo em voltar ao supermercado. Quando cheguei a casa, com as compras, ainda, em cima da mesa da cozinha, sentei-me no parapeito da janela, com as pernas do lado de fora a olhar as pessoas que passavam na rua. Fiquei um bocado parado, sentindo o frio do alumínio nas costas, enquanto pensava o que significava saber que as compras nos davam para uma semana, que raio de vida é essa em que sabemos exactamente que as compras nos dão para sete dias, nem mais nem menos, o que também é falso, como depois se veio a provar. Sentia o frio do Inverno a aproximar-se, a senhora do telejornal tinha dito que correntes polares se aproximavam da região continental, na cara que parecia encolher de frio e na mão que perdia cada vez mais sensibilidade. Atirei o cigarro para o passeio da frente e estudei a trajectória dele a cair, um quarto de elipse, meia curva de gauss com a ajuda do vento. A queda do cigarro não perturbou ninguém que passava, tinha-lhes sido indiferente e nem barulho fez, ou pelo menos que eu notasse, pelo que considerei que era melhor levantar-me dali e ir arrumar as compras nos seus devidos sítios e não esperar por ter que lavar a loiça para fazer tudo ao mesmo tempo, visto que tinha carne e por muito que pensasse que a temperatura estava baixa, supunha que não tão baixa assim.
Olhando do dia de hoje, 27 de Fevereiro, percebo que aquele dia foi especialmente importante nestes quatros anos que se passaram, precisando quatros anos, três meses e dez dias, por terem aberto um caminho que na altura não parecia possível. O resto do mês de Novembro teve pouco de diferente dos meses que lhe precederam, cada vez saía por menos tempo, descia para tomar um café e fumava o cigarro em casa, não passando mais do que cinco minutos a folhear o jornal enquanto bebericava o expresso, o que acaba por ser das coisas que mais sinto falta hoje em dia, não o jornal ou o tempo no café, mas tomar um expresso em quatro goles faz-me uma falta desgraçada, aliás, tomar um expresso faz-me uma falta desgraçada, já pensei, até, em comprar uma máquina mas a qualidade dos cafés dessas máquinas de pastilhas é completamente diferente de um tirado com café moído pouco tempo antes, sendo que este pouco tempo poderá sempre variar um bocado, mas nunca exceder os dois dias, com a temperatura de água correcta, que só se obtém após muitos cafés tirados para pessoas a correr os tomarem em pé ao balcão e dizerem, está aqui o dinheiro, apontando com o dedo enquanto já dão meia volta para voltarem ao seu dia de trabalho que na generalidade dizem trocar facilmente por ficarem em casa sem fazer nada, e comprar uma a sério parece que me transformaria num excêntrico em vez de apenas esquisito. Comecei a comprar maços de cigarros no plural, para não ter que voltar à rua todos os dias, e a pensar que poderia encomendar comida do supermercado que eles me entregariam à porta, o que felizmente, ainda, demorou três meses a acontecer, aliás, só aconteceu após ter percebido que também podia encomendar volumes de uma tabacaria e que eles me entregavam em casa. Até ao Natal desse ano ainda fui a uns quantos jantares com amigos, tendo, depois, recusado todos os jantares, ditos, de Natal, com umas desculpas esfarrapadas de que tinha muito que fazer ou que não estava no país nessas datas. Creio que ninguém acreditou muito nas minhas escusas mal disfarçadas mas também não me chatearam particularmente, não mais do que um "anda lá", "devias vir", "gostávamos que viesses", tinham-se habituado, nos anos anteriores que eu não estivesse presente, e embora a situação fosse, diferente não fizeram caso.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

domingo, 7 de dezembro de 2014

And then the veins stand out like highways

cada passo fazia um baque distintivo no chão, os dela mais finos e audíveis, os dele mais secos e curtos, ambos calçavam botas com sola de madeira. Ela usava as botas por fora das calças, protegendo-as de ficar empapadas, ele, botins, que se deixavam notar enquanto o tecido escurecia e com o peso da chuva se colava ao cano da bota. Os passos, embora não medidos, eram lentos, não fugiam da, pouca, chuva que caía, fugiam deles mesmos e nessa fuga cada passo aproximava-se do chão a disparar salpicos para todos os lados. O passeio apresentava pequenos lagos, uns ligados por rios que espelhavam a chuva, deformando-se em ondas circulares, tornando negro o tapete já de si cinzento escuro. As botas aterravam no chão com uma solidez nada expectável para quem não costuma andar à chuva, ela pousava a ponta e só depois o tacão, ele calcava com o tacão e deixava cair a biqueira que se dobrava para dar origem a um novo passo. Ao principio quase não chovia, era cacimbo só, uma neblina baixa e espessa, ainda não nevoeiro, mais líquida. Tinham acabado de jantar e o silêncio fez com que ela perguntasse se não queria dar uma volta, que ainda não chovia. Ele assentiu com um "se quiseres". Vestiram casacos de algodão pesado, o dela de um rosa velho, esbatido, o dele azul marinho, quase cinzento, com um bolso embutido para os cigarros ao nível da cintura. Dez passos após terem saído começou a pingar, não falaram, não demonstraram, sequer, que tinham noção que começava a chover, continuaram simplesmente a andar como se tivessem destino, embora o destino não pudesse ser mais do que chegar ao velho forte quinhentista e voltar pelo mesmo caminho, sob pena de, se fossem por outro lado, passarem por uma rua mais iluminada e com um punhado de entes nos cafés, algo que não suportariam, a consciência de se sentirem envergonhados pela deterioração de comunicação seria demasiado impeditiva para que não tivessem que fingir à luz diáfana dos candeeiros de rua. Jantaram calmamente, beberam um garrafa de vinho e a nenhum dos dois apetecia-lhe sair. A decisão foi tomada não por vontade mas por medo da alternativa, zapping incessante entre programas noticiosos, computadores abertos, redes sociais, e-mails de trabalho e silêncio, com um ocasional cigarro e, talvez, a sorte de um copo de whisky partilhado que permitiria proferir "queres?", "obrigada", "não". Saíram para fugir ao destino da noite, substituindo o cansaço mental da incomunicabilidade pelo cansaço físico que pouco espaço daria às almofadas do sofá, ocupados que estariam em despir-se, fumar mais um cigarro em pé a ver se alguma notícia importantíssima lhes tinha escapado, o que de resto era uma estupidez pois ao mínimo sinal de relevância noticiosa o telefone de algum deles já tinha tocado, e ir para a cama, onde o silêncio não seria menor mas teria a justificação de que era necessário dormir. Avançavam para aquele destino circular e ela tentou falar, perguntou qualquer coisa sobre o dia, que ele tinha saído a meio da tarde e ela não sabia para onde. Obteve uma resposta curta e seca, sem ele se dar conta que era uma resposta como um eucalipto. Ela calou-se e arrependeu-se de ter falado, ele pensou que já não conseguiam conversar porque a ela não lhe interessava o que ele tivesse a dizer. Quanto mais avançavam mais a chuva se avolumava, voltar para trás era irrelevante, já que ficariam encharcados de qualquer maneira, mais valia continuarem com o plano. Nenhum dos dois queria ter mais um acto falhado que os devolvesse ao habitual com o peso que isso proporcionava, e, ainda mais, com o facto de este puder ser a gota que faz transbordar o copo e os enviar para mais uma discussão sem fim onde a destruição estava sempre assegurada e da qual não conseguiam sair, nem, incólumes nem com alguma espécie de decisão de ordem prática. Passaram pelo café a meio do caminho, que mais uma vez apresentava as suas cores esbranquiçadas e uma luz quase negra, onde estariam não mais do que três mesas ocupadas e não mais que sete clientes. Ele pensou em parar para tomar um café, mas sabia que ela não era favorável a cafés à noite, principalmente após já terem tomado um em casa, pelo que não lhe disse nada. Ela esteve quase para lhe dizer para tomarem um café, não que lhe apetecesse o café em si, aliás não o tomaria, pediria uma água com gás ou algo do género, mas para poder sair por uns momentos da chuva, mas como sabia que ele gostava de tomar café e não disse nada é porque não lhe apetecia parar e não queria que ele fosse ao café só para lhe fazer a vontade, como lhe parecia que tantas vezes fazia, com as consequências disso a serem mais desconfortáveis que a chuva. Do café, um casal ficou a olhar para os dois vultos que passavam com trinta centímetros de distância entre eles e a pensar porque raio alguém andaria à chuva naquela direcção, uma vez que não pareciam pescadores e nem canas carregavam.
viste? vi. Quem era? não sei, está demasiado escuro. Pescadores? com este tempo os pescadores não pescam nestas rochas. Estranho!
A mente dele desprendeu-se, entrara no café e ficara a perscrutar quem seria que estava no café, de quando em quando ia ali tomar café depois de jantar, normalmente sozinho uma vez que a ela raramente lhe apetecia sair, para a encontrar, depois, já no sofá, estendida, e sem lhe perguntar nada sobre a sua saída. Ela pensava que podiam ter entrado, que como não tinha sido ele a perguntar talvez percebesse porque é que ele saía tantas vezes para tomar café, se estaria lá alguém que pudesse ser o motivo dessas saídas.
O chão dali para diante tinha um certo declínio que lhe permitia apresentar uma superfície luzidia mas sem água acumulada. Adaptaram o passo para não escorregar, ele com mais dificuldade que ela, talvez pela maneira de pisar, e continuaram até encontrarem o lago para onde a água fugira. Ele estendeu a mão, para a ajudar, que ela não viu e o fez recolhê-la com um gesto de desalento, voltando à silhueta individual. Enquanto a mão perorava no ar ficou a pensar porque é que ela escolheu o casaco rosa, estava a chover, o verde escuro ficava por certo melhor. Não percebia essa escolha, como tantas outras, não se usa calças brancas no inverno, por certo também não se usaria casacos rosa claro quando o céu se apresenta fechado, essa escolha ficaria confinada aos dias frios mas sem nuvens, aqueles em que o céu se apresenta limpo e um sol frio reino, onde o calor vem de outros lados, como de casacos rosa, e por certo que aquelas botas não seriam as mais confortáveis, embora a esse respeito tivesse mais dúvidas, poderia-se dar o acaso de que as botas com o tacão mais alto fossem as mais confortáveis. Ficava contente por estar com aquelas botas calçadas, sólidas e confortáveis, aquelas botas que pensava sempre que eram ferradas por terem uma costura por baixo na sola, a coser pele à base. Sempre que as calçava ficava com a sensação de ser um cavalheiro de outros tempos, algo entre um cavaleiro e um tipo daqueles que não tem amarras ao presente e mira o pôr-do-sol como destino, montado numa mota potente ou num barco à vela em direcção a Veneza. Ela, num vislumbre, seguiu o braço dele em trajectória descendente, tendo demorado um segundo a entender o movimento e ficando com a sensação que se tinha apercebido demasiado tarde. Não disse nem fez qualquer gesto, passando a poça com agilidade, contente com a sua independência de não precisar do braço dele para ultrapassar aquele simples obstáculo. No mar, muito depois das ondas rebentarem, pequenos barcos ardiam no firmamento.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

I can see the darkness, through the cracks

a noite abatia-se e com ela o frio a penetrar nos ossos. Uma mão, quase dormente, pendurava um cigarro da meia noite. Da janela do primeiro andar era impossível vê-los no passeio a olhar o mar, apenas um ponto vermelho. Dois casacos compridos e o cabelo levado pelo vento, duas figuras a preto e branco de costas para o mundo. Não falavam, ocupados a ver as ondas a esmagarem-se contra os rochedos. Dois mundos que não se tocavam unidos por um mar furioso. Ela fitava a espuma que se precipitava abandonada depois do embate, ele fumava um cigarro em que se comprimia o desejo de se enfiar dentro de água. O nevoeiro envolvia-os como um cobertor húmido que cortava as feições. Calados, sempre calados, as mãos dela escondidas; as dele, cada vez mais roxas, esqueciam a temperatura. De longe a longe um carro passava a alta velocidade para logo a estrada ficar vazia e apenas se notar o neblina a correr nos candeeiros. Tinham percorrido a marginal como se tentassem libertar-se de uma ameaça que os perseguia, cruzando a chuva rala que caía como se ela não existisse. A única coisa que comunicava entre eles era o barulho que o isqueiro dele fazia quando acendia um cigarro. O dia tinha-se afundado naquela margem de oceano e a noite imperava com o tom lilás que certas noites adquirem quando querem mostrar uma lua submersa de nuvens. A má iluminação noturna mostrava duas figuras a avançar com os casacos abertos pelo vento e as botas cada vez mais escuras de água. Quando resolveram parar, ainda chovia, e pelas faces rolavam pequenas gotas de água que os percorriam até ao peito. Tinham, já, passado o ponto em que o frio, ou a água, os incomodava, em que o abismo que as suas sombras projectavam tinha importância, que a ausência não se tinha tornado parte do caminho percorrido. Existia uma clausura que não parecia partir pela intemperie, uma dor que eles queriam quebrar pelo sofrimento infligido e que se transformava numa constante torturante. Os precipícios dentro de cada um deles berravam mais alto que as ondas a quebrarem, que o mar a galgar a praia, furioso, até quase os atingir no passeio, mas nenhum deles conseguia ouvir o outro, eram como dois barcos no meio das vagas sem conseguirem comunicar, fustigados pelo vento e pela chuva, tornados cegos pelo nevoeiro, a cruzarem irremediavelmente a espuma até aos rochedos lhes abrirem os cascos e sangrarem a asfixia de permanecerem imóveis sem que do primeiro andar alguém os conseguisse ouvir ou avisar que o farol se apagou, que o faroleiro ficou bêbado e tombou no café sem activar a luz, que aqui os espinhos não rasgam a pele, alojam-se e criam gangrena, escondidos na carne, até que a infecção se veja nos olhos e mais não consigam que os fechar, a arder de uma febre da qual não se conseguem libertar.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

in a shallow grave


From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view. 


E. A. Poe