sábado, 30 de maio de 2015

sexta-feira, 29 de maio de 2015

quinta-feira, 28 de maio de 2015

quarta-feira, 27 de maio de 2015

neither do I

segunda-feira, 25 de maio de 2015

da criminalização idiota

Uma baforada para os pregadores da virtude

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 15/05/2015)
         Daniel Oliveira
                         Daniel Oliveira
Deixei de fumar há um ano e meio. Uma decisão difícil, que exigiu muita força de vontade, para quem fumava dois maços e meio por dia. E deixei de fumar apesar da absurda espiral de perseguição aos fumadores. Posso mesmo dizer que ela foi, para além do vício e do abandono de um prazer (sim, fumar era um prazer de que sinto imensas saudades), o que mais me fazia resistir a este abandono. Detesto que me queira desviar para o caminho da virtude e dos bons costumes.
Eu gosto, como sabem, que o Estado cumpra as suas funções. Mas fico perturbado quando vejo tudo de pernas para o ar. Vejo que o Estado abandona o Serviço Nacional de Saúde, desregula o mercado de trabalho e se recusa a proteger-nos da exploração e do abuso, deixa o mercado entregue a si mesmo e permite a fuga das grandes empresas às suas obrigações fiscais. E quanto menos existe mais quer mandar nos nossos gestos quotidianos. Na realidade, o Estado deixou de proteger os cidadãos de quem tem mais poder do que eles mas está cada vez mais empenhado em proteger os cidadãos de si mesmos. Nós temos de viver com a liberdade económica de quem tem dinheiro e a liberdade de circulação de capitais. A única coisa que o poder político acha que não podemos aguentar é a nossa própria liberdade.
O ESTADO DEIXOU DE PROTEGER OS CIDADÃOS DE QUEM TEM MAIS PODER DO QUE ELES MAS ESTÁ CADA VEZ MAIS EMPENHADO EM OS PROTEGER DE SI MESMOS. A ÚNICA COISA QUE O PODER POLÍTICO ACHA QUE NÃO PODEMOS AGUENTAR É A NOSSA PRÓPRIA LIBERDADE
Nesta espiral legislativa, que tem a enorme vantagem de não exigir mais a um Governo do que uma caneta e vontade de agradar à maioria do eleitorado, surgiu mais uma medida, comum em vários países: acrescentar imagens assustadoras, muitas delas sem qualquer rigor científico e técnico, para que as pessoas deixem de fumar. Em vez de informação rigorosa, em vez de exigirem mais obrigações às tabaqueiras, em vez de se tratarem os cidadãos como adultos e as empresas como responsáveis, apela-se ao medo.
Deixei de fumar. Mas, perante os militantes higienistas, sempre prontos a converter-me e purificar-me, tenho uma vontade louca de pegar num cigarro e dar uma baforada de prazer. Sei que o tabaco mata e tira qualidade de vida. Mas não matou tanta gente como aqueles que sempre quiseram obrigar os outros a viver segundo as suas regras de virtude. E não tira tanta qualidade de vida como as hordas de moralistas que querem limpar o mundo de todo o vício.
Pena não ter coragem de morrer cedo. Comprava já um maço, daqueles que vão ficar parecidos com as capas do “Correio da Manhã”, cheios de fotos com cadáveres e frases bombásticas, e fumava-o com um indescritível prazer. Seria a minha homenagem aos que, menos temerosos do que eu, dedicaram a sua vida à imperfeição e ao vício.
não sendo hábito, este re qualquer coisa, não podia de deixar, podia mas apeteceu-me, de propagar esta crónica gamada ao Estátua de Sal

sexta-feira, 15 de maio de 2015

We're going to miss Him


(89 anos)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

domingo, 3 de maio de 2015

Like any dealer he was watching for the card

Sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo      uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra

O meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado
            à morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que
            existe nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
(antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa)
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
eu o pico do Everest 
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente - tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris - já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião - não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais - também, já por cá
            passaram.
E sou, no sentido mais enérgico da palavra
na carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
            passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnífica      irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser
escrupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-los semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou
            em franca ascensão para ti O Magnífico
na cama      no espaço duma pedra      em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais nem
            lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu partido de manhã encontrado perdido entre
            lagos de incêndio e o teu retrato grande!



Mário Cesariny